Papel da mesada na educação financeira de crianças
- cacosantoscfp
- 26 de dez. de 2016
- 3 min de leitura

“Tenho duas filhas (8 e 12 anos) que demandam bastantes coisas. Gostaria de educa-las desde já a ter consciência financeira. Mesada é uma boa solução?”
Em primeiro lugar, parabéns pela preocupação com o tema desde cedo. Educação financeira para as crianças, para mim, é tão essencialmente necessária quanto ensiná-las a escovar os dentes depois das refeições, não falar de boca cheia nem comer com os cotovelos na mesa, respeitar os mais velhos, dizer “por favor” e “obrigado” e tantos outros valores que passamos a eles.
Especificamente sobre sua pergunta, começo com a forma de encarar a mesada: é um instrumento de educação financeira. A criança deve entender que seu direito de decidir sobre dinheiro é uma responsabilidade importante e merecida, ao qual ela fará jus se demonstrar amadurecimento compatível com a responsabilidade. Não é presente, não é remuneração. Não use como instrumento de chantagem; não use como prêmio por boa educação; não é presente dos pais. Não considere a mesada como qualquer outra coisa além de educação financeira.
Algumas dicas de implementação que acho importantes:
- periodicidade: deve ser compatível com o entendimento da criança sobre o tempo. Para crianças pequenas, a semanada é mais adequada, porque entendem que sábado e domingo descansam, 2a-feira tem aula, e assim por diante. Talvez para sua filha de 8 anos seja ainda melhor assim. Para a de 12 anos uma vez por mês deve ser melhor, porque já deve ter noção melhor de como lidar com um dinheiro que dure por 30 dias.
- valor: o ideal é negociar com a criança dentro de suas expectativas e necessidades. A de oito deve ter desejos mais imediatos como um gibi ou pequenos brinquedinhos. Talvez a de 12 já queira usar a cantina da escola com mais liberdade de escolha. Sente-se com cada uma e entenda suas demandas por dinheiro. É importante que entendam o princípio de que podem guardar dinheiro com disciplina para desejos maiores. Sugiro então que haja uma sobra que possam economizar para um brinquedo ou passeio mais especial. Importante: não dê de presente o que elas estão economizando para comprar!
- formato: apesar de todas as formas eletrônicas de pagamento cada vez mais em evidência, acredito que o bom e velho papel-moeda é a melhor forma de uma criança entender o valor do dinheiro. Se tem, compra; se não tem, não compra. Somente depois destes conceitos bem arraigados é que se deve introduzir outros mais avançados como juros (bacana quando estão conseguindo fazer economias, e um belo incentivo adicional) e crédito (que deve custar juros, mesmo que dos pais – será assim na vida adulta!)
Outra dica importante: os pais têm o instinto de proteger os filhos. Mas deixe suas filhas errarem. Consumir errado e se arrepender é um aprendizado importante para a vida. É melhor fazer isso com um brinquedo hoje do que com um carro ou apartamento no futuro!
A saúde financeira dos adultos que eles vão virar depende essencialmente dos valores que nós, pais, transmitimos a eles desde pequenos. Os filhos SEMPRE usarão os pais como maiores exemplos. Tudo o que você fizer de positivo e de negativo vai se refletir neles. Então tente ao máximo prestar atenção em como você trata o dinheiro, o consumo, a poupança, e policie-se para passar as mensagens que farão suas filhas serem pessoas que tenham prazer em ganhar dinheiro.
Ajude-as a serem pessoas ricas, e também que tenham dinheiro para seus sonhos.
Matéria publicada no Valor Econômico em 27/07/2016







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